Hoje é dia do Orgulho LGBTQIA+, então, precisamos celebrar os direitos conquistados com muita luta por esse grupo tão diverso! Um deles é o de formar uma família e a reprodução humana assistida tem um papel importante em possibilitar que muitas dessas pessoas possam realizar o sonho de gerar seus próprios filhos.
Tudo começa com o direito à união entre pessoas do mesmo sexo, que não era reconhecida no Brasil até 2011. Na mesma época, a reprodução homoafetiva foi regularizada pelo Conselho Federal de Medicina.
Dez anos depois, o número de famílias formadas por casais de mulheres e homens só aumenta, sendo que muitos deles conseguiram ter filhos biológicos graças à reprodução humana assistida, com técnicas cada vez mais tecnológicas que envolvem, inclusive, a participação das duas pessoas.
Principalmente em datas como a de hoje, é muito importante falar sobre esse assunto e conscientizar a sociedade de que essa é mais do que uma possibilidade para os casais homoafetivos: é um direito garantido!
Outra conquista importante para a população LGBTQI+ foi a realização de cirurgia de redesignação sexual para mulheres trans no SUS, vigente desde 2008. O mesmo direito passou a valer para os homens trans apenas em 2019. Ambos os procedimentos são parte importante da transição de gênero para uma parcela significativa das pessoas trans.
Entretanto, esse processo costuma se iniciar muito antes, com a administração de terapia hormonal que pode, sim, trazer impactos para a fertilidade de mulheres e homens trans. Se possível, o ideal é que essas pessoas realizem procedimentos de preservação da fertilidade antes de iniciar a transição hormonal.
Para que todos possam compreender como a reprodução humana assistida pode ajudar casais homoafetivos e pessoas trans a realizarem o sonho de formar uma família biológica, vamos explicar as técnicas que utilizamos aqui no Centro de Reprodução Humana do Mater Dei. Vamos lá?
Reprodução assistida para casais homoafetivos
Para casais de mulheres, as opções de reprodução humana assistida são amplas, utilizando o esperma de um doador ou do banco de esperma da clínica, com a Fertilização In Vitro (FIV) ou inseminação intrauterina. Cada um desses métodos será indicado de acordo com o status de fertilidade da mulher e a vontade do casal.
Uma das possibilidades mais interessantes para esses casais é o método ROPA, em que o óvulo a ser fertilizado é coletado de uma das mulheres e o embrião implantado na outra. Assim, ambas têm participação ativa na gravidez, mas é preciso ter em mente que, nesse caso, a FIV é necessária.
Para casais de homens, o processo é um pouco mais complexo porque será necessário fazer uma gestação de substituição, conhecida popularmente como barriga de aluguel.
Enquanto o óvulo pode ser obtido por meio de uma doação anônima dentro da clínica de reprodução, será necessário encontrar uma mulher disposta a receber a transferência do embrião, lembrando que é permitido que a gestação de substituição seja feita por uma parente de um dos homens do casal. Vale lembrar, também, que o sucesso na implantação e gestação depende, também, da saúde da mulher.
Preservação da fertilidade e reprodução assistida para pessoas trans
Muitas pessoas trans têm o desejo de um dia formar uma família biológica, mas o processo de transição de gênero, seja com terapia hormonal ou determinadas cirurgias podem impactar a fertilidade de homens e mulheres trans.
Para as mulheres trans, não será possível gerar a criança já que elas não possuem útero, mas é possível ter filhos biológicos por meio da relação sexual sem método contraceptivo com uma pessoa com útero ou por coleta de espermatozóides para inseminação artificial ou FIV.
Vale atenção, entretanto, para o momento em que a mulher trans vai desejar se tornar mãe; Algumas terapias hormonais causam infertilidade temporária, mas a cirurgia de redesignação sexual, por exemplo, torna a mulher infértil. Nesse caso, a criopreservação do esperma é uma excelente alternativa.
Já para os homens trans, é possível gerar a criança, e muitos se tornam pais dessa maneira. Entretanto, é necessário interromper a terapia hormonal com testosterona antes, durante e alguns meses após a gravidez. É importante que ele tenha em mente que a menstruação vai voltar e os seios irão crescer devido ao aumento de progesterona.
Para os homens trans que querem se tornar pais biológicos sem gerar a criança, é possível realizar um ciclo de estimulação ovariana após a interrupção da terapia hormonal com testosterona, e coletar óvulos para serem fertilizados em laboratório. Depois de cultivado, o embrião pode ser implantado em gestação de substituição, e essa mulher pode ser parente do homem trans.
Toda essa tecnologia possibilita que todas as pessoas tenham o direito de ter uma família biológica independentemente da sua orientação sexual ou identidade de gênero, demonstrando mais uma vez que a reprodução humana assistida é, sem dúvidas, uma ferramenta de liberdade para muita gente.